Como a resiliência estratégica se traduz em vantagem competitiva e criação de valor

Como a resiliência estratégica se traduz em vantagem competitiva e criação de valor

A estratégia clássica, baseada no paradigma econômico, atribui a principal fonte de vantagem competitiva de uma organização à sua capacidade de prever o futuro e se planejar para chegar aonde almeja neste cenário previsto, provável. Em contraposição a este paradigma, a estratégia contemporânea afirma que, como a realidade nem sempre sai conforme o previsto, a real fonte de vantagem competitiva não é a capacidade de predição, e sim a resiliência organizacional, ou seja, a capacidade da organização não de antever o futuro, mas de se adaptar ao cenário presente e extrair dele vantagens competitivas antes de seus concorrentes, qualquer que seja o cenário. Faz sentido, afinal, se a realidade é imprevisível, ela o é para todos e, portanto, a capacidade e velocidade de adaptação emergem como características muito mais relevantes ao sucesso organizacional do que a capacidade de predição, que seria, em última instância, uma falácia.

Esta é a perspectiva de Henry Mintzberg, um dos acadêmicos e autores mais respeitados quando o assunto é estratégia e estruturação organizacional. Na verdade, o autor aponta não uma, mas 3 falácias da estratégia clássica:

  1. A falácia da PREDIÇÃO, já explanada e para a qual o que não faltam são exemplos recentes, como os eventos do COVID-19, as guerras Rússia x Ucrânia e Israel x Hamas e a popularização do uso da Inteligência Artificial. Longe de querer entrar no mérito de cada questão, fato é que cada um destes eventos ocorreu em uma esfera diferente (sanitária, geopolítica e tecnológica, respectivamente) e pegou a todos de surpresa, afetando consideravelmente os negócios ao redor do mundo, inclusive, o das Big Techs, como no case trazido a seguir.
  2. A falácia da FORMALIZAÇÃO. Ora, se não é possível prever o que vai acontecer, os planos estratégicos estão fadados a serem reformulados e, assim, qual o sentido de formalizá-los por longos períodos ou escrevê-los, literalmente, nas paredes?
  3. A falácia da DISTINÇÃO ENTRE FORMULAÇÃO E EXECUÇÃO. Explico. Essencialmente, um plano estratégico é uma resposta que uma organização dá a seu ambiente de negócios acreditando que esta ação será capaz de levá-la a alcançar sua visão (onde ela quer chegar). No entanto, sempre que organizações implantam suas estratégias, elas influem no ambiente de negócios que, uma vez alterado, passa a requerer das organizações novas respostas, num processo contínuo de retroalimentação e adaptação. Assim, a própria execução, ao influenciar no ambiente, gera a necessidade de um novo planejamento e vice-versa. Ou seja, o planejamento tanto emerge da execução quanto a direciona, sendo ambos, portanto, indissociáveis.

 

Por isso, aqui vão algumas dicas:

 

  1. Não subestime o planejamento. Planeje sim, antecipando sua tomada de decisão e ação futura com análises baseadas em fatos e dados, pois quem falha em planejar, planeja falhar.
  2. Tenha toda disciplina do mundo na hora de executar o que planejou, pois, pelas razões listadas a seguir, a falha de execução tem sido o principal “calcanhar de Aquiles” da grande maioria das empresas. Segundo uma pesquisa da universidade de Harvard, conduzida por Kaplan e Norton, apenas 15% dos executivos gastam pelo menos uma hora por mês para acompanhar a execução da estatégia,  apenas 25% têm seus incentivos ligados aos direcionados estratégicos, somente 40% das organizações dizem conectar ser Plano Estratégico a seu Orçamento e, pasmem, apenas 5% da força de trabalho diz conhecer e compreender a estratégia das empresas onde atuam.
  3. Acima de tudo, mantenha a mente aberta e tenha flexibilidade para perceber o inesperado e aproveitar as oportunidades quando elas surgirem, adaptando seus planos por meio de estratégias emergentes capazes de lhe trazer diferenciais competitivos que ninguém enxergou ainda, antes de seus concorrentes.

Quer um exemplo super contemporâneo e notório de uma adaptação estratégica? Toda as Big Techs foram, de certa forma, pegas de surpresa pela rapidez com que esta nova onda da inteligência artificial (IA) se alastrou e popularizou. Geralmente, revoluções tecnológicas como esta são identificadas em retrospecto, como a revolução industrial de 1760 e da internet na década de 90. Mas esse não foi o caso da IA, que em poucos meses teve seu uso disseminado no mundo todo através do Chat GPT, da Open AI. Nem mesmo um de seus fundadores, o polêmico bilionário Elon Musk, que chegou a doar U$ 100 milhões do próprio bolso para a empresa, foi capaz de imaginar o que estaria para acontecer. Tanto que ele próprio deixou o negócio antes do boom do Chat GPT, quando a Open AI ainda era uma ONG sem fins lucrativos. E qual foi a reação das Big Techs a esse evento inesperado? Todas se viram obrigadas a, rapidamente, adaptar seus planos estratégicos.

No mundo todo, vivenciamos o maior turnover de engenheiros e programadores da história, com dezenas de milhares de pessoas sendo despedidas pelas empresas de tecnologia, que passaram a competir freneticamente pelos escassos especialistas em Inteligência Artificial. 

A Tesla acelerou seus investimentos no Copilot e em seu supercomputador Dojo, que, segundo analistas do Morgan Stalenley, tem potencial de conferir à empresa uma “vantagem assimétrica” no uso da inteligência artificial, vindo a agregar centenas de bilhões de dólares ao valuation da companhia.

O Google, por sua vez, passou a investir todas as fichas no seu próprio motor de Inteligência Artificial, o Bard, que a empresa recentemente rebatizou como “Gemini”.

Já o Facebook, que em 2021 mudou seu nome para META, pela posição central que o projeto METAVERSO chegou a ocupar na estratégia da empresa, deu um cavalo-de-pau na sua estratégia e pausou o projeto para redirecionar seu foco e recursos na Inteligência Artificial. 

No entanto, a meu ver, o player que fez o movimento estratégico mais acertado foi aquele que saiu na frente e, antes de suas concorrentes, foi capaz de “perceber” o que estava acontecendo. Antes mesmo de o Chat GPT ter se disseminado mundo afora, a Microsoft viu ali uma oportunidade e investiu U$ 13 bilhões para adquirir 49% da Open IA. Desde então, a empresa está trazendo os recursos da IA para suas próprias soluções, como o pacote Office, para melhorar a experiência e potencializar a produtividade de seus usuários. O resultado? Uma valorização da Microsoft em mais de 1 trilhão de dólares (com “T” mesmo) em menos de um ano, o que a levou a desbancar a Apple do posto de empresa mais valiosa do mundo na data em que este artigo foi escrito. Este é o poder da resiliência, da adaptação organizacional! 

Planejamento é importante, mas resiliência é fundamental. Como diz a máxima do exército israelense, “se houver disparidade entre o mapa e o terreno, soldado, fique sempre com o terreno.”

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